quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Especial Copa 2014: Sedes – Belo Horizonte

Na primeira reportagem da série sobre as sedes da Copa 2014, um raio-x da preparação da capital mineira, que quer receber a abertura do Mundial

Quando o Brasil sediou sua primeira Copa, em 1950, Belo Horizonte era uma pacata cidade de 350000 habitantes. Seu papel naquele Mundial foi secundário, mas ficou eternizado pelo resultado inusitado de uma das três partidas que recebeu — uma improvável vitória dos Estados Unidos por 1 x 0 frente à Inglaterra, num recém-construído estádio do Independência.
Em 2014, a capital mineira almeja exercer um protagonismo bem maior. Se não é a favorita para receber a abertura, Belo Horizonte é certamente a cidade mais empenhada para isso. As obras de reforma do Mineirão estão entre as poucas do país que se encontram em dia com o cronograma estabelecido pela Fifa. Depois de passar por reforço estrutural no primeiro semestre, o estádio foi fechado para obras durante a Copa e, no início de julho, começou a ter seu gramado retirado — será rebaixado em 3,5 metros para abrigar mais assentos no lugar da antiga geral. As verbas para ambas as etapas são do governo estadual.
Ao todo, a modernização do Mineirão custará 665,7 milhões de reais, sendo que a empresa vencedora do processo de licitação da terceira etapa da obra, que será conhecida no dia 13 deste mês, ficará encarregada de explorar comercialmente o estádio por 25 anos. O novo Mineirão terá capacidade para 69000 pessoas, e é um dos trunfos da cidade para convencer a CBF e a Fifa a trazer para a cidade o primeiro jogo do Mundial. “Não é uma obsessão de Belo Horizonte, não faremos qualquer coisa para ter a abertura. Vamos fazer o que foi planejado, e se isso atende aos requisitos da Fifa, então somos candidatos”, diz Tiago Lacerda, presidente do comitê executivo municipal de Belo Horizonte da Copa 2014. Ele afirma que a cidade também quer ser a principal sede da Copa das Confederações.
Para conquistar esse direito, Belo Horizonte precisa resolver o mais grave de seus gargalos: a rede hoteleira insuficiente. Hoje, a cidade conta com apenas um hotel cinco estrelas — e mesmo assim longe do estádio, numa região de congestionamento frequente. De acordo com Lacerda, a cidade tem dedicado especial atenção à atração de novos empreendimentos no setor. “Montamos um grupo estratégico para agilizar processos internos e dar prioridade a projetos de rede hoteleira. Hoje temos uma lista de 25 a 30 projetos, com oito ou nove em construção. Teremos cinco novos hotéis cinco estrelas para 2014”, diz.

Mas para Paulo Resende, coordenador do Departamento de Infraestrutura e Logística da Fundação Dom Cabral, o número de leitos que a Copa exige é maior que a demanda posterior. “Hoje Belo Horizonte não apresenta uma demanda real nem potencial para ocupação desse aumento exigido. O que a cidade precisa é de um projeto de criação de demanda para acomodar o crescimento de oferta exigido”, diz.
Outra deficiência da cidade é o aeroporto de Confins, cuja ampliação ainda está em fase de elaboração do projeto executivo. “Apontamos a necessidade de ser construído o terminal 2, que tem tempo hábil para ficar pronto em 2013, mas o governo federal ainda não sinalizou a construção”, diz Eder Campos, gerente do Projeto Copa 2014 do governo do estado.
O prazo curto para a realização da obra pode fazer com que a Infraero tenha de recorrer a estruturas temporárias. “Confins hoje não tem estrutura para receber voos internacionais em grande volume. Se as obras do novo terminal começassem no ano que vem, já estariam atrasadas. Mas não acredito que tenham início até meados de 2011”, diz Paulo Resende.
Justamente de Belo Horizonte veio o primeiro exemplo de como o prazo curto para a conclusão de obras pode gerar atropelos. Para suprir a ausência do Mineirão, o plano inicial era reformar o Independência, do América-MG. O estádio, que foi repassado por 20 anos ao governo estadual, recebeu um investimento de 50 milhões de reais — 20 milhões do governo mineiro e 30 milhões do Ministério do Turismo, num perigoso precedente de investimento do governo federal em um estádio.
No entanto, problemas jurídicos emperraram as obras, que só tiveram início em janeiro deste ano. A conclusão, que estava prevista para setembro, já foi revista para março de 2011. O governo do estado investiu outros 13 milhões na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas, a 70 km de Belo Horizonte, para receber os jogos de América-MG, Atlético-MG e Cruzeiro. No entanto, o estádio e o gramado não agradaram aos clubes, que já buscam alternativas em Ipatinga e Uberlândia.
No que se refere ao legado da Copa para a cidade, Belo Horizonte está em uma situação relativamente confortável. O professor Edson Paulo Domingues, da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, realizou um estudo sobre os impactos econômicos da Copa 2014 na cidade. Ele afirma que a cidade terá um acréscimo de 2% em seu Produto Interno Bruto (PIB) e 36000 novas ocupações. “É um ganho acima do que haveria normalmente sem a Copa”, afirma.
Para o deputado Sílvio Torres, presidente da Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados, a indefinição sobre a abertura pode gerar gastos desnecessários. “As obras de mobilidade urbana servirão como legado, mas receber a abertura no Mineirão vai custar no mínimo 300 milhões a mais”, diz. Eder Campos garante que não. “Falo com tranquilidade de que em Minas não se desperdiçará dinheiro por uma única partida. Tudo o que estamos fazendo para em pé independentemente da abertura e da Copa”, diz. Assim esperam os mineiros.

Foto: Eugênio Sávio
Arena do Jacaré, em Sete Lagoas: fracasso de público e críticas ao gramado por parte dos jogadores

Foto: Jonas Oliveira
O Independência em obras: o estádio só deve ficar pronto em março de 2011

Fotos: Jonas Oliveira (1) Z Divulgação (2)
Máquinas trabalham no anel inferior do Mineirão, que dará lugar a camarotes (E). A fachada do estádio (D), tombada pelo patrimônio histórico municipal, será mantida. E uma perspectiva do entorno do estádio
Segue link abaixo:
http://placar.abril.com.br/copa-do-mundo-2014/selecao-brasileira/materias/especial-copa-2014-sedes-belo-horizonte.html?utm_source=jornal-placar&utm_medium=none&utm_campaign=abril-na-copa

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